terça-feira, novembro 21, 2006

Esporte e desenvolvimento humano

Por Fernando Fontoura
20/11/2006

Penso que não há muita discussão sobre o fato do esporte ser um meio para o desenvolvimento humano na área moral. Muito se diz também que o esporte reflete o caráter de uma pessoa e que se eu não conhecer meu adversário no dia-a-dia, ao jogar uma partida com ele, posso levar como prévio julgamento de sua pessoa as atitudes que teve na quadra durante a contenda.

Mas pouco se fala que o contrário também é verdadeiro, ou seja, que se pode mudar comportamentos que afetam o dia-a-dia através do esporte. Estão aí vários projetos socais para ratificar esta afirmativa. Mas esta relação com o esporte não se restringe apenas a projetos sociais. Nós, pessoas que sabemos ler, escrever, temos certo estudo e certa condição econômica, também podemos nos beneficiar deste aspecto esportivo e engendrar mudanças no nosso caráter através do esporte que praticamos.

Como todas as virtudes de uma vida estão presentes no esporte, além de estarem muito mais explicitadas, é questão de aprender a perceber a relação que há entre elas e nossas atitudes no dia-a-dia. A coragem que tem que se ter ao enfrentar alguém melhor tecnicamente; a persistência que tem que se ter ao implantar uma tática que se julga ser a melhor; a disciplina que tem que se ter ao manter as metas vivas na mente; a consistência que tem que se ter para não fugir dos propósitos e sucumbir à primeira dificuldade; a capacidade racional que tem que se ter para analisar os porquês das derrotas e vitórias.

Não há como dissociar as virtudes do esporte das virtudes de levar uma empresa adiante em um mercado competitivo; não há como dissociar as virtudes necessárias para praticar um esporte, seja por competição ou lazer, das virtudes necessárias para ter sucesso profissional na vida.

Porém, as virtudes em si não são nada se não tiverem um fim para alcançar. Exatamente pelo ser humano ser um agente automotivacional em busca de uma meta, em todas as áreas que atua, é que as virtudes se tornam tão importantes, como as ferramentas certas de um carpinteiro que o acompanham em cada lugar que for realizar um trabalho. Mas a mesma maleta de ferramentas, sozinha, sem uma finalidade definida, não terá o mesmo valor.

Guga está colocando suas virtudes em jogo quando tenta voltar ao circuito, assim como um empresário as estaria colocando se estivesse tentando sair do buraco com sua empresa. Mas a pergunta que deveria estar se fazendo Guga não é apenas o que ele quer com essa volta (isso ele já respondeu), mas por que o quer.

Para que colocar todas as virtudes em jogo e desejar o que desejo? É muito bonito ver as pessoas colocando todas suas forças em jogo, dá uma sensação superação, de poder, que elas podem tudo. Mas as virtudes não garantem nada e colocá-las em funcionamento não que dizer que o sucesso esteja garantido. O que determinará mais o sucesso daquilo que se almeja é saber a real natureza daquilo que se quer realizar. É por teimosia ou por algo maior?

Andy Roddick disse certa vez que caiu de produção neste ano porque havia ficado desapontado com tantas partidas perdidas para Federer no ano passado, então, focou exageradamente (teimosia) vencê-lo. Além de não conseguir alcançar sua meta, começou a perder de outros jogadores também. A teimosia afunila a visão e estreita as ações.

Fico feliz por ver Guga voltando à ativa e querendo ser novamente top 10, mas ainda não foi explicitado, pelo menos nas entrevistas dele, o porque de tanta dedicação, ou seja, qual sua verdadeira motivação. Mas na verdade, quem tem que saber essa motivação são apenas duas pessoas: ele mesmo e seu técnico. Como dizia Ayn Rand, filósofa americana: "Se quiser mover um homem, descubra sua motivação".

As virtudes são as ferramentas que colocam o que há de melhor em nós em movimento. Assim como um bom formão será melhor utilizado por alguém que saiba como usá-lo, elas serão muito melhor utilizadas por uma mente que sabe pensar.

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