segunda-feira, abril 24, 2006

O tênis não é mesmo para qualquer um

Existem situações no tênis que explicam por que este esporte é tão diferente de qualquer outro e principalmente a razão de ser tão difícil seguir uma carreira, até mesmo amadora.
O adversário está abatido, cometendo uma sucessão interminável de duplas-faltas e erro não-forçados. Você chega a 6/1, 5/1. Tudo bem, ele ainda conseguiu sacar razoavelmente e ganhou o próximo game. Mas então você tem o saque a favor no 5/2 e não fecha. No 5/4, não completa de novo, desperdiçando dois match-points pelo caminho. E ainda chega ao 6/5, nada. O tiebreak ameaçador parece sob domínio quando enfim você vai sacar com 6 a 4 no marcador. E de novo não termina.
Guillermo Coria certamente protagonizou em Monte Carlo uma das maiores viradas da história recente do tênis. A seu favor, apenas a incrível determinação de não se entregar, de correr atrás das bolas mais impossíveis. Não foi apenas uma questão de como estava o placar, mas da situação do jogo. Até iniciar a reação, ele somava 17 duplas-faltas.
É bem verdade que Paul-Henri Mathieu tem histórico de amarelão. Ninguém na França esquece a virada que ele tomou de Mikhail Youzhny no quinto e decisivo jogo da final da Copa Davis de 2002 diante da Rússia. “É imperdoável perder deste jeito”, declarou ele aos jornalistas franceses, que nunca tiveram muita confiança na cabeça de Mathieu.
Aí está o outro aspecto que a partida tanto evidenciou. A batalha mental que se travou na quadra mostrou quem tinha mais cabeça. Num de seus primeiros match-points favoráveis, Coria reconheceu o erro do juiz e passou o pé na linha para dar o winner que salvou momentaneamente o francês. Nem se abalou.
Isso me faz lembrar de uma outra virada espetacular. Quartas-de-final de Roland Garros, 1993. Gabriela Sabatini tinha 6/1, 5/1, 40 a 15 com saque a favor. Perdeu de Mary Joe Fernandez com 10/8 no terceiro set, desabou na carreira e admitiu mais tarde que demorou um ano inteiro para esquecer a derrota.
O tênis não é mesmo para qualquer um.
por José Nilton Dalcim às 19h15

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